segunda-feira, 30 de junho de 2014

Tudo de você

Eu não sei explicar a razão, mas alguma coisa bateu muito forte desde o primeiro dia que trocamos meia dúzia de palavras.
Mas acho que foi a meia dúzia de palavras que mais me marcou até hoje.
Eu tava de saco cheio de dar murro em ponta de faca.
Era melhor ficar sozinha do que ter alguém só por protocolo, porque é o socialmente esperado.
Eu nunca dei bola pra isso. Tô me lixando pro socialmente esperado. Sou o tipo da pessoa que come bife na sexta feira santa, você sabe disso.
As tais borboletas no estômago eram uma utopia para mim. Mas confesso, você me provou que elas existem e promovem rebuliços dentro de nós - intermináveis eternos enquanto durem ou, no meu caso, simplesmente eternos, já que a atual perspectiva indica que nunca deixarão de existir. Ou, se a vida tomar outro rumo e eu encontrar alguém que promova em mim 10% do que você foi capaz de promover, ainda sim, você permanecerá enraizado tal como uma tatuagem. Não haverá técnica de remoção que te tire de dentro de mim. Até porque, eu não quero. Veja bem, não é autoflagelo, é apenas vontade de perpetuar aquilo que foi bom, apesar do fim. Mas que fim, se você fez casa e ninho aqui dentro?
Catulo já disse que “é difícil, de repente, livrar- se de um longo amor”. Concordo em gênero, número e grau. Inclusive "longo" é uma questão de ponto de vista e de intensidade e isso não se mede. Se sente. Não é qualquer um que te arrebata com tantas coisas, incluindo o inesquecível dia que te entreguei seu presente de aniversario, um dia qualquer até então daqueles em que se está tão, mas tão casual que a desconstrução do personagem que fazemos para impressionar quem nos interessa, é o nosso maior charme.
Eu trajava um vestidinho indiano, cabelo bagunçado, zero de maquiagem e você, uma
bermuda. E a gente só precisava mesmo disso. E da “magia” que estava naturalmente no ar.
Mensagens dulcíssimas no celular – tão doces que me faziam crer que daria formiga na minha tela -; telefonemas com súbitos e adoráveis convites tarde da noite, saídas sem qualquer planejamento especial, porque na realidade o especial era estarmos juntos.
Jogo aberto e revelações que, diante do tamanho do meu sentimento, seriam completamente ultrapassadas, transpostas, irrelevantes. Sem contar as partes inconfessáveis publicamente dessa história, aquelas que só nós sabemos, os segredos que trocamos, as confissões feitas só entre nós e sobre nós mesmos, as aventuras que eram motivo de altas risadas e todo o resto inerente a uma intimidade que é imperecível e que foi única – pelo menos pra mim. E em certos detalhes, creio que pra você também. Não sou tão plena com ninguém como sou com você.
Veja bem, não digo “fui”, porque na realidade, o tempo é presente. Passeio até você com certa recorrência e me enrosco nas lembranças e nos teus braços sem que sequer tome conhecimento.  É um ato solitário, "como uma ideia que existe na cabeça e não tem a menor pretensão de acontecer. Talvez você até imagine, porque a minha discrição tem limites muito tênues e se tem uma coisa que você não é, é burro. 

Há uma música do Milton Nascimento que diz: “quanta saudade brilha em mim, se cada sonho é seu”. Cada sonho é seu e será até que volte a se tornar realidade (embora eu não tenha expectativa a esse respeito) ou até que eu aprenda a conviver com isso. Fiquei marcada como gado, uma marca que ninguém vê, mas que eu sei que está ali e
que você, só você, é capaz de notar no meu olhar – porque ninguém foi tão fundo em mim. E sei que nos meus olhos, há nitidamente o seu reflexo – brilhando, tinindo, constantemente polido e relembrado. Memória das mais doces, mesclada a um prazer – no sentido amplo e mais profundo da palavra – arrebatador.
Repito: não é auto flagelo ou saudosismo de boteco. Não é nostálgico ou pesaroso. Não é
lamento. Eu desejo muito a sua felicidade, onde quer que seja e esteja. O que eu sinto apenas é: Quero ficar no teu corpo, feito bailarina que logo te alucina, salta e te ilumina, quando a noite vem”. Não interessa quanto tempo durou, se pouco ou muito, porque eu não meço a intensidade de alguma coisa pelo calendário.

O que importa é que eu agradeço por ter tido você. Inegavelmente foi a oportunidade de
conhecer de perto algo que eu buscava há muito tempo: um sentimento que o mar não
fosse capaz de apagar na areia, simplesmente porque ele está gravado em mármore, em algum lugar privilegiado e bonito desse meu coração já ligeiramente cansado de lidar com isso ou esperar por algo que eu nunca quis que tivesse me escapado pelos dedos. Não precisa haver mais nada para que eu tenha isso gravado na memória das minhas retinas tão fatigadas, como diria Drummond. É bonito. Isso basta. 

Até que – dificilmente– se prove o contrário, sua imagem será doce, inesquecível e perene, caminhando - ainda que de forma invisível, não publicável, secreta, velada - comigo. Meu palpite? Nunca serei, por mais que eu me apaixone por alguém (o que pode acontecer, de fato, embora eu tenha me acostumado com o seu "padrão de qualidade" e tenha me tornado uma pessoa extremamente exigente), tão de alguém como fui e de certa forma me sinto sua.
Nunca. Sou capaz de apostar dinheiro. Sei que ganho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário