quinta-feira, 14 de março de 2013

Nós

Poucas pessoas gostam de viajar sozinhas. O que é compreensível: a
melhor modalidade é a dois, também acho.
Mas, na ausência momentânea de parceria, por que desconsiderar uma
lua de mel consigo mesmo?
Uma amiga me disse que não é por medo que as pessoas não viajam sozinhas, e sim por vergonha. Faz sentido: numa sociedade que condena a solidão como se fosse uma doença, é natural que as pessoas se sintam
desconfortáveis ao circularem desacompanhadas, dando a impressão de
serem portadoras de algum vírus contagioso. 

Pena. Tão preocupadas com sua autoimagem, perdem de se conhecer mais
profundamente e de se divertir com elas próprias.
Solitários, somos todos, faz parte da nossa essência. Não é um defeito de
fabricação ou prova de nossa inadequação ao mundo, ao contrário: muitas
vezes, a solidão confirma nossa dignidade quando não se está a fim de
negociar nossos desejos em troca de companhia temporária. 

E a propósito: quem disse que, sozinho, não se está igualmente comprometido?
Numa viagem a sampa, um casal se aproximou. Começamos a conversar. Lá pelas tantas, perguntei de onde eles eram. “De Porto Alegre, e você?”
Respondi: “Nós, do Rio de Janeiro ”. Nós!!! Quanta risada rendeu esse ato falho. 

Eu e eu. Dupla imbatível, amor eterno, afinidade total.
Se você não se atura, melhor não viajar em sua própria companhia. Mas se
está tudo bem entre “vocês”, saiam por aí e descubram como é
bom sentar num café num dia de sol, pedir algo para beber enquanto lê um bom livro, subir até terraços para apreciar vistas deslumbrantes, entrar em lojas e ficar lá dentro o tempo que desejar, entrar num museu e sair dali quando bem entender, caminhar sem trajeto definido nem hora pra voltar,
pedalar ao longo de um rio ouvindo suas músicas preferidas no iPod, em conexão com seus pensamentos e sentimentos, nada mais.
Vergonha? Senti poucas vezes na vida, quando não me reconheci dentro da
própria pele. Mas estando em mim, sob qualquer circunstância, jamais estarei só.

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