terça-feira, 20 de março de 2012

Quem tem que ficar, fica!

Semana passada ela ligou pro seu melhor amigo e o convidou para um programinha. E eles não se falavam desde o aniversário, quando tudo deu errado. De tempos em tempos somem, falam umas coisas horríveis um pro outro. Ele topou desde que fosse daqui pra frente, preguiça de conversar da briga e tal.
E foram. Como sempre foi aquela delicia, vergonha e encantamento com tudo que ele falava detalhadamente, o olhar dele de " poxa porque ela me olha mole assim?"
Incrível como tudo o que eles fazem juntos tem bom rendimento e boas risadas.
Por fim ela se lembrou o quanto é bom sentir a sensação do seu coração tão calmo.
E voltou a sentir o soninho do sofá de casa com manta que sente ao lado dele. Eles não se beijam nem nada, mas quando se dão conta um pegou na mão do outro de tanto que se gosta e se cuida e se sabe. Já tiveram seus tempos de transar e passar nervoso e aquela coisa toda de quem ama prematuramente. Mas evoluíram para esse "cuidar" que não sabem explicar. Ele a conta das meninas, e ela conta dos caras. Ela acha engraçado quando ele fala "ah, enjoei, ela era meio sem assunto, sem sal, sem atitude, sem tudo" e olha pra ela querendo penetrar no que ela está pensando. Ele também ri quando ela diz "ah, ele não entendeu nada, só quis me fazer de palhaça ou pior me comer mesmo" e olha pra ele sabendo que ele também não entende, mas pelo menos não vai embora. Ou vai mas sempre volta. Entre eles não existe ciúmes e nem posse porque são pra sempre. Ainda que ele case, more na Bósnia, são quase cinco anos. Ela pensa "Somos pra sempre". Ele conta das fotos de lingerie de uma gostosa que vai fazer e ela estremece, ela fala da tentativa de faculdade, dos seus medos. Os mesmos de mil anos. Contar e sem pressa de acabar. Se ele a corta é como se a frase que ela fosse falar fosse mesmo dele. É um exibicionismo orgânico, como se o silêncio pudesse continuar lhe vendendo como uma boa pessoa.
São cinco anos. É isso. Ele a viu de cabelo curto enrolado e achou horrível. Ela se lembra bem dele, com aquele boné inseparável e horrível de tão velho.
A sua maior tristeza é que todo novo amor que arruma vem sempre com algum velho amor tão longo e bonito. E sofre porque com pouco tempo não consegue ser melhor que o muito tempo. E de sofrer assim e enlouquecer assim, nunca dá tempo de ser muito para esses amores porque sempre os estraga antes. Mas aquele melhor amigo é seu único amor. O único que conseguiu. Porque ele sempre volta. E seu coração fica calmo. E ele vai com ela na pizzaria e todos seus amigos novos morrem de rir porque ele é naturalmente engraçado e gente boa e sabe todos os assuntos do mundo. E todo mundo adora o seu melhor amigo. E ela o ama. E os dois sempre acabam suspirando aliviados e pensam "alguém é bobo como eu, alguém tem esse humor" e mais uma vez riem da piada que inventam, do pai que chega pro filho e fala: sua mãe não é sua mãe, eu transei com outra". E esse é o presente e também o medo dessa fase gostosa acabar. E tudo ficar tão terrível de saudade de gente indo embora. Quem tem que ficar, fica.

Um comentário:

  1. "A sua maior tristeza é que todo novo amor arruma vem sempre com algum velho amor tão longo e bonito. "

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