terça-feira, 30 de abril de 2013
Apegue-se
Dizem alguns filósofos e também os budistas: o apego é a causa de todas as nossas dores emocionais. Concordo, mas faço ressalvas. O apego também provoca inúmeras alegrias e satisfações.
Não faz sentido evitar filhos paixões e amizades a fim de se proteger de tristezas preocupações e frustrações. Passar uma vida inteira desapegada da pessoas seria entregar-se ao vazio
existencial – e nunca ouvi dizer que isso gerasse bem-estar.
Desapegar-se em troca de paz é uma falácia, só demonstra covardia de viver.
Não haveria um caminho do meio? Xeretando ainda mais os livros, encontrei algo do romeno Cioran que me pareceu chegar bem perto de uma saída para o impasse. Diz ele que a única forma de viver sem drama é suportar os defeitos dos demais sem pretender que sejam corrigidos.
Eis aí uma fórmula bem razoável para não se estressar.
Apegue-se, tudo bem, mas com 100% de tolerância. Em tese, é perfeito. Em menos de poucos segundos, consigo listar tudo o que me incomoda nas pessoas que mais amo.
Conseguiria listar também o que me faz amá-las, é claro, mas o ser humano veio com um chip do contra: os defeitos dos outros sempre parecem mais significativos do que suas qualidades.
Depois de um longo tempo de convívio, aquilo que nos exaspera torna-se mais relevante do que aquilo que nos extasia. Pois a recomendação é: exaspere-se, mas saiba que não vai adiantar.
Nada do que você disser, nenhuma cobrança, nenhum discurso,nenhuma novena, nada fará com que os defeitos do seu pai, da sua mãe, do seu marido, da sua mulher ou dos seus filhos desapareçam num passe de mágica. Assim como os seus também jamais evaporarão, por mais que os outros rezem e supliquem pra você deixar de sertão ........... (preencha os pontinhos).
Você é capaz de reconhecer seu defeito mais insuportável?
Só mesmo passando uma longa temporada num mosteiro do Tibete para desenvolver a capacidade de aceitar tudo o que nos tira do sério.
Seu filho indiferente, seu marido pão-duro, sua mãe mal-humorada, sua amiga carente, seu chefe durão, seu zelador folgado, sua irmã fofoqueira, seu colega chatonildo – imagine que paraíso se pudéssemos relevar essas e tantas outras diferenças, comungando com os defeitos alheios sem nunca mais esperar que os outros mudem.
Deixar de esperar é uma libertação.
Pois não espere mesmo, pois ninguém vai mudar nem um bocadinho. Nem você, nem aqueles que
você tanto ama, por mais que você pense que é fácil alguém deixar de ser ranzinza, orgulhoso ou o que for.
Aceite todos como são e,aleluia: drama, nunca mais. Se conseguir, tem um troféu esperando por
você, além de prêmio em dinheiro e uma foto autografada do Buda.
domingo, 21 de abril de 2013
Declarando a saudade
00:56, 1:12.. Dezesseis minutos pensando numa declaração e numa forma de dizer 'ei, sinto saudade'
Saudade, tá ai uma palavra tremendamente filha da puta.
Principalmente pra cancerianos carentes banhados com um belo repertório: Chico Buarque.
A dias tenho o mesmo sonho, eu na candelária, me despedindo e abraçando uma camiseta ridícula, entrando no taxi, e sorrindo em seguida. Depois eu e ele nos abraçando novamente, eu saindo do taxi, entrando no ônibus e chorando: sabia que seria a última vez que o veria.
Me apego a esse sonho, meus olhos borrados num dia chuvoso com a saudade que já seria a minha companheira.
Lembro-me bem dos seus olhos, da nossa conversa no bar e a minha insistência em não olhar em seus olhos e entregar tudo: a certeza que tive quando te vi, a certeza que nasci no corpo errado, a certeza que nasci na cidade errada ou a certeza que gosto do cara errado.
Tenho certeza de que mesmo com toda a distância é você o cara estranhamente babaca que me faria acordar diferente todos os dias e mesmo assim te admirando e ainda sim me virando a alma umas mil vezes ao dia.
Me faria sair dessa cidade que amo sem a mínima culpa, me faria sentir o frio na barriga que todo mundo sente quando se arruma pra encontrar quem se ama, me faria viva, me faria feliz no mesmo tanto que me fez só ao pensar em te conhecer.
Eu, aqui te sigo, te sinto nas piores horas de completa reclusão e solidão, e sempre caminho contigo mesmo sem você sentir, mesmo sem você querer.
E no fim de uma noite frustante e feliz, ele disse depois de um sorriso enorme para a foto que viria para a posteridade 'isso tudo já é saudade?'
Ela disse apenas 'sim, isso já é saudade'
E continua sendo.
Saudade, tá ai uma palavra tremendamente filha da puta.
Principalmente pra cancerianos carentes banhados com um belo repertório: Chico Buarque.
A dias tenho o mesmo sonho, eu na candelária, me despedindo e abraçando uma camiseta ridícula, entrando no taxi, e sorrindo em seguida. Depois eu e ele nos abraçando novamente, eu saindo do taxi, entrando no ônibus e chorando: sabia que seria a última vez que o veria.
Me apego a esse sonho, meus olhos borrados num dia chuvoso com a saudade que já seria a minha companheira.
Lembro-me bem dos seus olhos, da nossa conversa no bar e a minha insistência em não olhar em seus olhos e entregar tudo: a certeza que tive quando te vi, a certeza que nasci no corpo errado, a certeza que nasci na cidade errada ou a certeza que gosto do cara errado.
Tenho certeza de que mesmo com toda a distância é você o cara estranhamente babaca que me faria acordar diferente todos os dias e mesmo assim te admirando e ainda sim me virando a alma umas mil vezes ao dia.
Me faria sair dessa cidade que amo sem a mínima culpa, me faria sentir o frio na barriga que todo mundo sente quando se arruma pra encontrar quem se ama, me faria viva, me faria feliz no mesmo tanto que me fez só ao pensar em te conhecer.
Eu, aqui te sigo, te sinto nas piores horas de completa reclusão e solidão, e sempre caminho contigo mesmo sem você sentir, mesmo sem você querer.
E no fim de uma noite frustante e feliz, ele disse depois de um sorriso enorme para a foto que viria para a posteridade 'isso tudo já é saudade?'
Ela disse apenas 'sim, isso já é saudade'
E continua sendo.
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